Este é o Capítulo 3 de 3, sendo o último capítulo que acompanha esta linhagem familiar. (De relembrar que, no total, existem 6 capítulos: o primeiro conjunto de 3 capítulos está escrito em inglês; o segundo conjunto de 3 capítulos está traduzido para português.

(Imagem cortesia da Librairie Elbé, Paris).
Um Lugar Completamente à Parte
As famílias Coutinho e Oliveira são famílias tradicionais católicas romanas brasileiras, descendentes de imigrantes portugueses. No entanto, o estado da Bahia, no nordeste do Brasil, para onde imigraram, é um local único, bastante distinto do resto do país. Há razões históricas para isso… (1)
O Catolicismo é a Religião Fundamental do Brasil
Segundo a tradição, a primeira missa católica celebrada no Brasil ocorreu a 26 de abril de 1500. Foi celebrada por um padre que chegou ao país juntamente com os piratas e exploradores portugueses para reivindicar a posse das terras recém-descobertas. A primeira diocese do Brasil foi erigida mais de 50 anos depois, em 1551.
A forte herança católica do Brasil remonta ao zelo missionário ibérico, cujo objetivo no século XV era difundir o cristianismo. As missões da Igreja começaram a dificultar a política governamental de exploração dos povos indígenas. Assim, em 1782, os jesuítas foram suprimidos e o governo intensificou o controlo sobre a Igreja. Atualmente, a Igreja Católica é a maior denominação religiosa do país, com 119 milhões de pessoas, ou 56,75% da população brasileira, a declarar-se católica em 2022. Estes números fazem do Brasil o país com a maior comunidade católica do mundo. Existe um vasto panteão de santos na tradição católica. (Wikipedia e Google)

Comentário: Há mais católicos romanos no Brasil do que em Itália, simplesmente porque a população do Brasil é muito maior do que a da Itália. Seria muito apropriado dizer que o catolicismo é uma religião institucionalizada na Bahia. Especificamente, as fontes citam que existem mais de 365 catedrais e igrejas históricas só em Salvador, na Bahia. (Uma para cada dia do ano — o que nos leva a pensar: e o dia 29 de fevereiro? Em vez de ir à igreja, todos ganham um dia de folga para ir à praia?) (2)
A Escravatura só Terminou Oficialmente em 1888
Durante o período do tráfico atlântico de escravos, o Brasil importou mais africanos escravizados do que qualquer outro país do mundo. Dos 12 milhões de africanos trazidos à força para o Novo Mundo, aproximadamente 5,5 milhões foram levados para o Brasil entre 1540 e a década de 1860. A escravização em massa de africanos desempenhou um papel fundamental na economia do país e foi responsável pela geração de vastas riquezas. Nos primeiros 250 anos após a colonização do território, cerca de 70% de todos os imigrantes que chegaram à colónia eram pessoas escravizadas.
A escravatura não foi legalmente abolida em todo o país até 1888, quando Isabel, Princesa Imperial do Brasil, promulgou a Lei Áurea. A Lei Áurea foi precedida pela Lei Rio Branco, de 28 de setembro de 1871 (Lei do Nascimento Livre), que libertou todas as crianças nascidas de pais escravizados, e pela Lei Saraiva-Cotegipe, de 28 de setembro de 1885, que libertou os escravos quando estes completassem 60 anos. O Brasil foi o último país do mundo ocidental a abolir a escravatura.” (Wikipedia, ver notas de rodapé).

Candomblé e Sincretismo
Quando vivíamos na Bahia, por vezes assistíamos a partes de cerimónias de Candomblé realizadas num local chamado terreiro. Estes espaços sagrados são centrais para o Candomblé, servindo como local de culto comunitário, rituais e ligações com os espíritos ancestrais. Ambos achávamos notável que muitos Pai-de-santos ou Mãe-de-santos diferentes pudessem olhar para ti e dizer-te exatamente qual o Orixá que te estava a proteger. (E entre eles, em diferentes épocas e lugares, eram sempre os mesmos).
“O Candomblé desenvolveu-se entre as comunidades afro-brasileiras no meio do tráfico atlântico de escravos, entre os séculos XVI e XIX. Surgiu da fusão das religiões tradicionais africanas dos povos iorubá, bantu e fon, trazidas para a América do Sul, com o catolicismo romano, especialmente os santos católicos. Consolidou-se principalmente na região da Bahia durante o século XIX.” (Wikipédia e Altar Gods)
Uma das tradições religiosas centrais do Candomblé é a veneração dos Orixás, energias divinas associadas a diferentes elementos da natureza. Acredita-se que os indivíduos se identificam com um dos Orixás como o seu espírito tutelar. (Altar Gods)
Quando muitos escravizados chegaram à Baía durante a diáspora, encontraram os colonialistas portugueses católicos romanos que controlavam a região. De forma muito astuta, mantiveram as suas afiliações religiosas, ocultando secretamente os seus próprios santos, que estavam associados a santos católicos, como forma de preservar as crenças africanas apesar da conversão religiosa forçada. Isso chama-se sincretismo. Exemplo disso é o Orixá Ogun, que representa São Jorge, São Sebastião ou Santo António, dependendo da região. O Candomblé pode ser considerado uma religião não-institucionalizada na Bahia.

Em síntese, “o Candomblé é uma religião exclusivamente afro-brasileira, possibilitada pela mistura de tradições africanas, europeias e indígenas no Novo Mundo. O Candomblé é mais forte na Bahia, Brasil, um importante porto para a chegada de africanos. A sua principal cidade, Salvador, foi a primeira capital do Brasil. O primeiro terreiro de Candomblé foi construído em Salvador no século XIX, após a abolição da escravatura.” (Wikipédia) (4)

A Família Oliveira de Ubaitaba
Ubaitaba é uma pequena cidade ribeirinha localizada num trecho remanescente da Mata Atlântica antiga, no estado da Bahia, entre as cidades de Salvador e Ilhéus. Esta região “era anteriormente habitada por povos indígenas [Tupi] até à chegada dos colonizadores portugueses. Após o contacto com os portugueses e o estabelecimento das Capitanias do Brasil pelo Rei Manuel I de Portugal a partir de 1504, o território do município passou a fazer parte das terras da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. A vila de São Jorge dos Ilhéus foi fundada em 1536 como Vila de São Jorge dos Ilhéos. O nome moderno de Ubaitaba tem origem na língua Tupi.
Ao longo do século XVIII, desenvolveu-se a Capitania de São Jorge dos Ilhéus e estabeleceram-se quintas ao longo da costa da vasta região. A origem da vila está relacionada com a criação das fazendas do Arraial de Tabocas e do Arraial de Faisqueira (em 1783), área então utilizada para a extração de madeira, cultivo de cana-de-açúcar, cereais e cacau.

A 28 de janeiro de 1914, uma cheia destruiu o Arraial de Tabocas, dispersando a sua população. Coordenados pelo médico Francisco Xavier de Oliveira, residente na aldeia, as vítimas reconstruíram a aldeia, erguendo-a acima das águas. O nome escolhido foi Itapira. [Este nome foi alterado para] Ubaitaba, concedido em 1933, uma combinação das palavras indígenas “ubá, que significa canoa pequena, ‘y’, que significa rio, e ‘taba’ que significa vila/cidade.
Ao analisar as poucas fotografias históricas disponíveis da cidade, percebe-se que o traçado é constituído por duas ruas paralelas que acompanham a margem do rio. Entre as duas ruas, encontra-se um amplo meridiano arborizado, com a Igreja Católica numa das extremidades da cidade. As lojas e comércios têm um ou dois andares e estão virados para a rua. Fornecemos esta descrição porque a família Oliveira possuía um armazém em Ubaitaba, do tipo então conhecido por mercearia.

Antes do aparecimento das grandes cadeias de retalho, as mercerias gerais serviam como lojas de bairro essenciais, onde as pessoas podiam comprar uma variedade de produtos do dia-a-dia, funcionando como um ponto central nas comunidades locais. Vendiam uma grande variedade de produtos básicos e importados, incluindo artigos essenciais como arroz, feijão e açúcar, bem como produtos indispensáveis como sabão e fósforos, e uma seleção de alimentos e bebidas importadas. Também ofereciam produtos locais, como café, queijo e fruta.

Algumas mercearias raras ainda existem até hoje, mas este nome evocativo em particular deu lugar ao nome bastante genérico e universal de mini-mercado. (Pense em bilhetes de lotaria, cigarros, um pacote de leite e talvez alguns snacks, ou donuts). Nesta era moderna do Walmart em que vivemos, existem poucos lugares nas comunidades locais onde se pode entrar numa pequena loja familiar e todos saberem o seu nome.
À família de Oliveira…
Podemos começar por Manoel Celestino de Oliveira, nascido (provavelmente) no Brasil. Casou com Rita Celestino de Oliveira. Tiveram um filho, cujo nome é —
João Celestino de Oliveira, nascido a 6 de novembro de 1890 — em Maceió, Alagoas (estado) faleceu a 25 de novembro de 1968, em Ubaitaba. Casou duas vezes: primeiro com Eufrosina Souza Oliveira, até à sua morte antes de 1925. Tiveram um filho.
Em segundo lugar, casou com Maria de Almeida em 1925. Nasceu a 20 de março de 1900 em Maracás — faleceu a 5 de outubro de 1968, em Ubaitaba. Tiveram mais quatro filhos. Os pais de Maria de Almeida eram: Cândido Olegário de Almeida e Balbina Olegário.
Juntos, João Celestino de Oliveira e Maria de Almeida criaram 5 filhos. Todos os nascimentos e óbitos ocorreram na Bahia, Brasil, salvo indicação em contrário:
- Agostinho Celestino de Oliveira, nascido a 13 de Agosto de 1919 — falecido a 12 de Abril de 1983. (A sua mãe biológica foi a primeira mulher Eufrosina Souza Oliveira). Casou com Ana Eusátquio de Souza a 24 de abril de 1944.
- Lindaura de Almeida (Oliveira) Coutinho, nascida a 24 de outubro de 1927 em Ubaitaba — falecida a 19 de junho de 2020 em Salvador. (Lindaura leva a linhagem familiar mais longe. Veja o seu cônjuge e filhos abaixo).
- Laura de Almeida (Oliveira) Motta, nascida a 27 de março de 1929. Casou com Raynelde Dantas Motta, a 30 de março de 1949.
- José Celestino de Oliveira, nascido a 20 de dezembro de 1937 — falecido em 1992. Casou com Nidia Maria Amado de Oliveira em maio de 1968.
Era prima do querido romancista brasileiro Jorge Amado (ver notas de rodapé). - Maria Lourdes de Almeida (Oliveira) Cunha, nascida a 11 de Novembro de 1938. Casou com Humberto Olegário da Cunha a 28 de Dezembro de 1965. (5)

Lindaura Almeida (Oliveira) Coutinho, cerca de 1950.
(Fotos de família).
“Nem imaginas o quanto senti a tua falta…”
Antes de se casarem, Paulo e Lindaura trocaram cartas durante cerca de dois anos, até ficarem noivos em setembro de 1950. (Nessa altura, as cartas eram a única forma de comunicação. Os telefones residenciais ainda eram uma novidade e bastante caros no Brasil daquela época). Nenhuma destas cartas de namoro sobreviveu, mas algumas outras foram preservadas. Ao analisá-las, notamos a ternura com que ainda escrevia à sua mulher, Lindaura, mesmo muitos anos após o casamento. Numa carta de 1968 (que incluímos nas notas de rodapé), lemos estas palavras —
11 de abril de 1968
Minha querida Lindaura,
Saúde, juntamente aos nossos queridos filhos.
Estou arranjando as coisas para que possa vir no início de maio. Rivaldo conseguiu uma casa na Piranga, mas tem que fazer grandes reformas. Não pagarei aluguel, nem concerto.
Acho que na Piranga, os nossos filhinhos não extranharão muito o clima de Piranga. Breve lhe escreverei, carta mais minuciosa. Não calcula você, o quanto de saudade tenho sentido. Muitos beijos para os nossos filhos. Saudoso abraço do seu Paulo.
PS: A gratificação vai ser compensadora. NBR$ 500,00. Se a camioneta da “Ritom” não chegar até o dia 17 deste, mandarei os vestidos de Maria Celeste de avião.

Paulo de Azevêdo Coutinho, nascido a 29 de junho de 1919 em Lençóis — falecido a 28 de novembro de 1990 em Salvador. Casou com Lindaura Almeida de Oliveira a 19 de março de 1952 em Ubaitaba. Nasceu a 24 de outubro de 1927 em Ubaitaba — faleceu a 19 de junho de 2020 em Salvador.
O casal teve cinco filhos, como se descreve abaixo. Todos os nascimentos e óbitos ocorreram na Bahia, Brasil, salvo indicação em contrário:
- Maria Celeste Oliveira Coutinho, nascida a 14 de julho de 1953 em Salvador. Casou com Bernardino Dantas de Santana, em 28 de Julho de 1989, — (termina) data desconhecida.
- Maria Angela Oliveira (Coutinho) Martins Bass, nascida a 11 de Abril de 1955 em Salvador. Casou duas vezes, a primeira vez com Antonio Martins Jr., 1985 — (termina) antes de 2002. Casou a segunda vez com Robert Bass, 2002 — 2010, (a sua morte). Morreu no condado de Sarasota, Flórida, Estados Unidos.
- Maria Cristina Oliveira (Coutinho) Pinheiro, nascida a 27 de maio de 1961 em Ilhéus. Casou com Antonio Carlos Marques Pinheiro, em 1983. Tiveram dois filhos.
- Paulo Emilio Oliveira Coutinho, nascido a 17 de setembro de 1963 em Ilhéus. Casou uma vez, primeiro com Marizela Cardoso Sales, 1991 — (termina) antes de 2009. Tiveram dois filhos. Em segundo lugar, juntou-se a Sonia Alves Silva Chagas, em 2023. Têm um filho.
- Leandro José Oliveira Coutinho, nascido a 30 de setembro de 1965 em Ilhéus. Casou com Thomas Harley Bond em 26 de Junho de 2008.
Antes de conhecer Lindaura Almeida Oliveira, Paulo de Azevêdo Coutinho manteve uma relação anterior com uma mulher de nome Zulmira Silva. Embora nunca tenham se casado, e ela tenha falecido em 1952, desta união nasceram dois filhos, meios-irmãos da família (em cima). Paulo foi então pai de sete filhos.

- Sonia Maria De Azevêdo (Coutinho) Costa, nascida a 5 de novembro de 1942, em Salvador. Casou com Jorge Augusto de Oliveira Costa em 1969. Tiveram dois filhos.
- Newton de Azevêdo Coutinho, nascido a 25 de setembro de 1944 — falecido a 27 de maio de 2000, ambos em Salvador. Casou com Titê _____ em 1971. Tiveram uma filha. (6)

“Com a presença do presidente da Câmara José de Almeida Alcântara, vereadores, autoridades e imprensa, o coronel Paulo Coutinho tomou posse como chefe da polícia de Itabuna ontem às 15h00. Durante o seu discurso (foto), o presidente da Câmara Alcântara (na foto) enfatizou a necessidade de ‘um combate mais eficaz ao infame jogo do bicho [um jogo ilegal de números, ver notas de rodapé], que é abertamente desenfreado na cidade”. (Fotografia de família).
Coronel Paulo Coutinho
A fotografia acima, tirada num jornal, mostra o Coronel Paulo Coutinho como o recém-empossado Chefe de Polícia de Itabuna, em Julho de 1967. O homem animado, gesticulando com o braço, é José de Almeida Alcântara, o presidente da Câmara local, que parece bastante incomodado com as actividades de um jogo ilegal de números chamado Jogo de Bicho. Este era um jogo extremamente popular e, ao mesmo tempo, extremamente ilegal. Explorava pessoas que simplesmente não tinham condições para jogar. Segundo a Wikipédia: “Diz-se que o jogo se popularizou porque aceitava apostas de qualquer valor, numa época em que a maioria dos brasileiros lutava para sobreviver a uma profunda crise económica. ‘Se vir duas cabanas perdidas algures no interior’, observou certa vez um diplomata brasileiro, ‘pode apostar que um bicheiro [alguém ligado ao jogo] vive numa delas e um apostador assíduo na outra’”.
Era dever do Coronel Coutinho reprimir a operação ilegal. Esta era uma oportunidade para alguém na sua posição aceitar subornos e dinheiro por baixo dos panos para fazer vista grossa, mas nunca o fez. Até hoje, a sua família afirma categoricamente que ele era aquilo que se poderia descrever como um homem íntegro, que acreditava que viver uma vida honesta era melhor do que ascender através da corrupção. (E isto durante a era de uma ditadura militar repressiva, da qual a sua família também afirma que ele se manteve afastado).

A designação Polícia Militar só foi padronizada em 1946, durante o governo de Getúlio Vargas, com a nova Constituição de 1946, após o período Vargas do Estado Novo (1937-1945), que tinha como objetivo limitar a capacidade militar das Forças Armadas para que estas se concentrassem exclusivamente nas suas funções policiais. Historicamente, no Brasil, Após a Segunda Guerra Mundial, a Polícia Militar tornou-se uma força policial mais tradicional, semelhante à gendarmaria, subordinada aos estados’. Os gendarmes raramente são mobilizados em situações militares, exceto em missões humanitárias no estrangeiro. Num país como os Estados Unidos, as forças armadas e a polícia actuam de forma separada em termos de interacção com a comunidade.” Portanto, para quem não é brasileiro, este termo pode ser enganador.
“De acordo com o artigo 144.º da Constituição Federal, a função da Polícia Militar é servir como uma força policial visível e preservar a ordem pública. [Ela] está organizada como uma força militar e tem uma estrutura hierárquica militar. O comandante da Polícia Militar de um estado é geralmente um Coronel. O comando está dividido em regiões policiais, que mobilizam batalhões e companhias policiais.” (Wikipédia)
O Coronel Coutinho trabalhou em várias comunidades diferentes durante a sua carreira: Ilhéus, Itabuna, Juazeiro, e Salvador. Algumas destas missões separaram-no, por vezes, da sua família em crescimento por períodos de tempo. (7)

Vivendo em Ilhéus e depois em Piranga
A família Coutinho era uma família de classe média numa época no Brasil em que existiam muito poucas famílias deste perfil. De facto, das décadas de 1950 a 1980, a classe média era muito pequena. Depois, as coisas começaram a mudar com o avanço da democracia e a prosperidade económica. A classe média representava 15% da população brasileira no início da década de 1980 e abrange agora quase um terço dos 190 milhões de habitantes do país. Este crescimento deve-se ao bom desempenho económico do Brasil nos últimos anos, às políticas de redução da pobreza, às novas oportunidades de emprego e a uma força de trabalho mais qualificada. (World Bank Group)

(Fotografia de família).
Por volta de 1969, a família mudou-se para a região norte da Bahia durante um ano, vivendo em Piranga, na fronteira norte do estado. Como escreveu Paulo numa carta a Lindaura em Abril de 1968: “O bónus valerá a pena. R$ 500,00”. Isto indica-nos que a mudança para o norte se deveu provavelmente a uma promoção na carreira de Paulo, que passou a coronel da Polícia Militar.

A comunidade de Piranga é um pequeno município e um subúrbio de Juazeiro, que “está geminada com Petrolina, no estado [adjacente] de Pernambuco. As duas cidades estão ligadas por uma ponte moderna que atravessa o rio São Francisco. Juntas, formam a região metropolitana de Petrolina-Juazeiro, um conglomerado urbano de cerca de 500.000 habitantes”. (Wikipédia) A família regressou a Ilhéus antes de se mudar finalmente para Salvador em 1970. (8)
Pensando em Helena e Maria
Observação: Quando vivi pela primeira vez em Salvador, na Bahia, fiquei surpreendido com a enorme quantidade de pessoas que tinham outras disponíveis para trabalhar como empregadas domésticas. Como criança americana de classe média, isto não era algo remotamente acessível para nós. Tínhamos sempre muitas tarefas para fazer, para além de todas as outras responsabilidades que tínhamos enquanto adolescentes. — Thomas
“O fim da escravatura em 1888 não foi acompanhado de qualquer plano para integrar os ex-escravos negros numa sociedade capitalista baseada no trabalho remunerado. Embora fossem oferecidos empregos remunerados aos europeus que emigraram para o Brasil depois disso, para muitas mulheres negras pobres e sem instrução, a única possibilidade era continuar a trabalhar como empregadas domésticas”. Como recorda o escritor Mike Gatehouse: ‘As mulheres… viviam num pequeno quarto na zona de serviço do nosso apartamento. Isto era comum para todas as minhas amigas, como tinha sido para os nossos pais. Durante esses anos, as tarefas domésticas nunca fizeram parte da minha rotina ou algo com que tivesse de me preocupar. A casa funcionava como um hotel, onde os quartos eram limpos, as roupas lavadas e as refeições apareciam como que por magia.’” (LAB — Latin American Bureau, ver notas de rodapé.)
Cerca de 1970, Paulo foi novamente promovido. Este levou a família à cidade costeira de Salvador, no bairro de Canela.
Em Ilhéus, Piranga e Salvador, Helena desempenhou o importante papel de auxiliar doméstica. Viveu com a família Coutinho até aos 21 anos e ajudou a cuidar das crianças. Além disso, uma outra mulher chamada Maria assumia a função de empregada doméstica, mas não vivia na casa.

Avenida Sete de Setembro, 2155, no bairro da Vitória. À direita: Helena, com Leandro.
(Fotos de família).
Em 1975, mudaram-se pela última vez para uma nova casa num moderno arranha-céus chamado Edifício Júpiter, localizado no famoso Corredor da Vitória. (No Brasil, é muito comum identificar os edifícios pelo nome, em vez da morada). Este edifício e o bairro vizinho de Vitória proporcionavam à família um fácil acesso a comodidades, boas escolas para os filhos e, muito importante, segurança, durante um período de grande tensão no Brasil. Lindaura, a mãe da família, viveu no Edifício Júpiter durante 45 anos.

(Imagem cedida por Geographicus Rare Antique Maps).
“Com menos de um quilómetro de extensão, o Corredor da Vitória alberga o Museu de Arte da Bahia, o Museu Carlos Costa Pinto e o Museu Geológico da Bahia. Vitória é uma das áreas urbanas mais valorizadas do Nordeste do Brasil.” (Wikipédia)
Leandro recorda-se das muitas mangueiras e das grandes casas antigas que ainda ladeavam a rua. Por vezes, com o falecimento das famílias mais antigas, as suas casas e jardins eram abandonados e deterioravam-se. (A maioria destas casas acabou por ser demolida para dar lugar a modernos prédios de apartamentos). Até hoje, conta histórias de como a sua paixão pelas mangas o levava a invadir estes antigos jardins, a subir às árvores e a sair furtivamente com um cacho de mangas frescas. (9)
A Culpa é da Bossa Nova
Quando eu e o Leandro nos conhecemos, foi um verdadeiro encontro entre a América do Norte e a América do Sul, porque o inglês dele não era muito bom e o meu português era inexistente. (Tinha vivido na Alemanha na década anterior e, antes disso, na França, pelo que o seu francês e alemão eram bastante bons). Como norte-americano, eu era (e ainda sou, em certa medida) um grande contraste com a sua capacidade linguística. Sempre me impressionou a facilidade com que transita fluentemente para outras línguas em jantares.
Inicialmente, nessa altura, pensei no que sabia sobre o Brasil, e a resposta era: não muito. Quando eu era rapaz, o Brasil mergulhou num regime militar repressivo e simplesmente não havia notícias sobre isso nos jornais locais. Quando a democracia regressou ao Brasil entre 1985 e 1988, ninguém que eu conhecesse prestou muita atenção, embora estivéssemos conscientes desta mudança.
Como a maioria dos americanos, se sabia alguma coisa sobre o Brasil, era basicamente Carmen Miranda e alguns êxitos de bossa nova nas rádios. A Sra. Miranda era famosa por usar um chapéu de banana nos filmes, sempre linda (e parecendo divertir-se imenso a fazê-lo). A música Bossa Nova foi depois traduzida para inglês para agradar ao público americano (e, claro, para vender mais discos).

A maioria de nós conhecia o êxito “Garota de Ipanema”, que ouvíamos nos rádios AM a pilhas. Influenciada pela música, a banda Sergio Mendes & Brazil ’66 era extremamente popular em meados da década de 1960 (na altura em que Leandro nasceu). Aliás, eram tão famosos que ainda me lembro perfeitamente de estar num campo enlameado em Newbury Township, Ohio, depois de uma tempestade, quando tinha uns 10 anos. Assisti à banda marcial da Newbury High School a tocar uma versão muito boa da música Mas Que Nada (que, ironicamente, era cantada em português). Diria que era de dar vontade de bater o pé ao ritmo, mas as minhas botas estavam atoladas na lama.
Para Leandro e a sua família, os Coutinhos e os Oliveiras — passados muitos e muitos anos, a vida completou um ciclo, pois regressámos à terra ancestral dos seus antepassados. Vemos o mundo através das nossas lentes modernas, pensando sempre naqueles que aqui viveram antes de nós. Para esta família, invertemos o rumo da sua imigração passada, pois agora vivemos em Lisboa, Portugal. (10)
— Thomas
A seguir são apresentadas as notas de rodapé para os Materiais de Fonte Primária, Notas e Observações
Um Lugar Completamente à Parte
(1) — um registos
Librairie Elbé Paris
Jets to Brazil, Varig Airlines cartaz de viagem
por artista desconhecido, cerca de 1960
https://www.elbe.paris/en/vintage-travel-posters/1618-vintage-poster-1960-jets-brazil-varig-airlines.html
Nota: Para a arte do cartaz vintage.
O Catolicismo é a Religião Fundamental do Brasil
(2) — quatro registos
Catholic Church in Brazil
(Igreja Católica no Brasil)
https://en.wikipedia.org/wiki/Catholic_Church_in_Brazil
Nota: Para o texto.

Estátuas de Santos em Ouro Preto, Minas Gerais
por Fotógrafo desconhecido
https://en.wikipedia.org/wiki/Catholic_Church_in_Brazil#/media/File:-i—i-_(6288973445).jpg
Nota: Para a fotografia acima
Afar
The São Francisco Church e Convent
Igreja e Convento de São Francisco
https://www.afar.com/places/igreja-e-convento-de-sao-francisco-salvador
Nota: Para a fotografia.
Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, Salvador
https://en.wikipedia.org/wiki/Church_of_Nosso_Senhor_do_Bonfim,_Salvador
Nota: Para o texto explicativo “Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia”
A Escravatura só Terminou Oficialmente em 1888
(3) — quatro registos
Escravatura no Brasil
https://en.wikipedia.org/wiki/Slavery_in_Brazil
Nota: Para o texto.
Isabel, Princesa Imperial do Brasil
https://en.wikipedia.org/wiki/Isabel,_Princess_Imperial_of_Brazil
Nota: Para referência.
Isabel, Princesa Imperial do Brasil
fotografado por Joaquim Insley Pacheco, cerca de 1870
https://en.wikipedia.org/wiki/Isabel,_Princess_Imperial_of_Brazil#/media/File:Isabel,_Princesa_do_Brasil,_1846-1921_(cropped).jpg
Nota: Para o retrato dela.
Lei Áurea
https://en.wikipedia.org/wiki/Lei_Áurea
Nota: Para a imagem do documento.
Candomblé e Sincretismo
(4) — três registos

(Imagem cortesia do Pinterest).
Candomblé
https://en.wikipedia.org/wiki/Candomblé
Nota: Para o texto e a fotografia histórica de 1902.
Altar Gods
Candomble: Afro-Brazilian Faith and the Orixas
(Candomblé: A Fé Afro-Brasileira e os Orixás)
https://altargods.com/candomble/candomble/
Nota: Referente ao texto e às obras de arte.
A Família Oliveira de Ubaitaba
(5) — cinco registos
> A fotografia de família nesta secção faz parte da coleção pessoal de fotografias de família.
Ubaitaba
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ubaitaba
Nota: Para o texto.
Mapas Históricos da Bahia
Mapa da Bahia de 1911
https://www.historia-brasil.com/bahia/mapas-historicos/seculo-20.htm
Nota: Trata-se de um excerto do Mapa Geral do Brasil publicado em janeiro de 1911 e organizado pela empresa Hartmann-Reichenbach. As linhas vermelhas representam caminhos-de-ferro.
Ubaitaba.com
História Regional e História
http://ubaitaba.com/historia-regional/
Nota: As fotografias superiores são da secção do website com a etiqueta História Regional e História.
Restos de Colecção
Mercearias e Mini-Mercados
https://restosdecoleccao.blogspot.com/2013/05/mercearias-e-mini-mercados.html
Nota: Para a fotografia inferior intitulada Antigas Mercearias.
“Nem imaginas o quanto senti a tua falta…”
(6) — nove registos
> As fotografias de família desta secção fazem parte da coleção pessoal de fotografias de família.

Jorge Amado, (10 de agosto de 1912 — 6 de agosto de 2001) “…foi um escritor brasileiro da escola modernista. Continua a ser o mais conhecido dos escritores brasileiros modernos, com a sua obra traduzida em cerca de 49 línguas e popularizada no cinema, entre as quais Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1976, e tendo sido nomeado para o Prémio Nobel da Literatura pelo menos sete vezes.

A sua obra reflete a imagem de um Brasil mestiço* e é marcada pelo sincretismo religioso. Retratou um país alegre e otimista que, ao mesmo tempo, era assolado por profundas diferenças sociais e económicas.” (Wikipédia) *Mestiço é um termo português que se refere a pessoas de raça mista, ou seja, pessoas de ascendência europeia e indígena não europeia.
Jorge Amado
https://en.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado
Nota: Para o texto.
Fundação Casa de Jorge Amado
https://www.jorgeamado.org.br/
Nota: Para o seu retrato.
Editoras Brasileiras
3 Livros para Conhecer a Obra de Jorge Amado,
Mestre do Realismo Social e da Imaginação Baiana
https://brazilianpublishers.com.br/en/noticias-en/3-books-to-get-to-know-the-work-of-jorge-amado-master-of-social-realism-and-bahian-imagination/
Nota: Para o texto.
O site da Editoras Brasileiras recomenda estes “três livros essenciais [que devem ser lidos] para descobrir a força e a diversidade da sua literatura”. (O texto descritivo abaixo é do site deles).
- Capitães da Areia
No livro, acompanhamos Pedro Bala, Professor, Gato, Sem Pernas e Boa Vida, jovens marginalizados que crescem nas ruas de Salvador. Vivendo juntos no Trapiche, formam uma comunidade unida. A chegada de Dora e do seu irmão Zé Fuinha, trazidos por Professor, causa alvoroço entre os rapazes, que não estão habituados à presença feminina. Aos poucos, desenvolve-se um laço afetivo entre o líder do grupo e a menina.
Capitães da Areia
(Captains of the Sands)
https://en.wikipedia.org/wiki/Captains_of_the_Sands
Nota: Para referência.
- Dona Flor e Seus Dois Maridos
A história começa durante o carnaval de 1943 na Bahia, quando Vadinho, um mulherengo e jogador inveterado, morre subitamente. Dona Flor, sua mulher, fica inconsolável. Algum tempo depois, casa com Teodoro Madureira, um farmacêutico que é o oposto do seu primeiro marido. Juntos, levam uma vida estável e tranquila, mas monótona, até ao dia em que o fantasma de Vadinho aparece na cama de Dona Flor.
Dona Flor e Seus Dois Maridos (romance)
(Dona Flor and Her Two Husbands) (novel)
https://en.wikipedia.org/wiki/Dona_Flor_and_Her_Two_Husbands_(novel)Nota: Para referência.
- Gabriela, Cravo e Canela
O livro narra o romance entre Nacib e Gabriela, passado em Ilhéus na década de 1920, durante o auge do desenvolvimento da cidade impulsionado pelo cacau. A sensualidade de Gabriela conquista Nacib e muitos outros homens, desafiando a lei contra o adultério feminino. Publicado em 1958, o livro foi um sucesso mundial e tornou-se uma aclamada telenovela brasileira.
Gabriela, Cravo e Canela
(Gabriela, Clove and Cinnamon)
https://en.wikipedia.org/wiki/Gabriela,_Clove_and_Cinnamon
Nota: Para referência.
Mestiço
https://en.wikipedia.org/wiki/Mestiço
Nota: Para os dados.
Coronel Paulo Coutinho
(7) — quatro registos
> A fotografia de família nesta secção faz parte da coleção pessoal de fotografias de família.
Jogo do bicho
https://en.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_bicho
Nota: Para referência.
Polícia Militar (Brasil)
Military Police [Brazil]
https://en.wikipedia.org/wiki/Military_Police_(Brazil)#:~:text=The Military Police was founded,on being exclusively police forces.
Nota: Para o texto.
Gendarmerie
https://en.wikipedia.org/wiki/Gendarmerie
Nota: Para referência.
Vivendo em Ilhéus e depois em Piranga
(8) — três registos
> As fotografias de família desta secção fazem parte da coleção pessoal de fotografias de família.
World Bank Group
No Brasil, uma classe média emergente arranca
(In Brazil, an emergent middle class takes off)
https://www.worldbank.org/en/news/feature/2012/11/13/middle-class-in-Brazil-Latin-America-report
Nota: Para o texto.

Exposição “Carybé e o Povo da Bahia”
celebra a identidade cultural no Museu de Arte da Bahia
https://jornalgrandebahia.com.br/2024/12/exposicao-carybe-e-o-povo-da-bahia-celebra-a-identidade-cultural-no-museu-de-arte-da-bahia/
Nota: Para as ilustrações de Carybé acima.
Juazeiro
https://en.wikipedia.org/wiki/Juazeiro
Nota: Para o texto.
Pensando em Helena e Maria
(9) — quatro registos
> A fotografia de família nesta secção faz parte da coleção pessoal de fotografias de família.
LAB – Latin American Bureau
Empregadas domésticas brasileiras: um ensaio fotográfico
(Brazilian Maids: A Photo Essay)
por Mike Gatehouse
https://lab.org.uk/brazilian-maids-a-photo-essay/
Nota: Para o texto.
Vitória (Salvador)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitória_(Salvador)
Nota: Para o texto.
Geographicus Rare Antique Maps
1931 Papelaria Brazileira City Plan of Salvador, Brazil
https://www.geographicus.com/P/AntiqueMap/salvadorbahia-papelariabrazileira-1931
Nota: Para a imagem do mapa.
A Culpa é da Bossa Nova
(10) — dois records
Sérgio Mendes
https://en.wikipedia.org/wiki/Sérgio_Mendes
Nota: Para referência.
and
Herb Alpert Apresenta Sergio Mendes & Brasil ’66
(Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brasil ’66)
https://en.wikipedia.org/wiki/Herb_Alpert_Presents_Sergio_Mendes_%26_Brasil_%2766
Nota: Referente à arte da capa do álbum.













































